Andava para lá e para cá com um jardim em cima da cabeça... aquele cabelinho aneladinho e livre, de quem não tem mãe nem avó que dê jeito.
Babá? Nunca ouvira falar nisso. Gostava mesmo daquela vida de caçar tatuzinhos-bola

no jardim e enfeitá-los com uma pitada de terra e várias pétalas de margaridas. Era o almoço de Carolina, Angélica, Ilca, Carla, Pedrinho e também do cachorro, que era tido como filho pela mãe solteira de cinco anos e dentinhos separados. Feijão de tatuzinhos bola nas panelinhas de plástico rosa ao molho de flores e barro. No entanto, cansava-se rápido daquela coisa de casinha e comidinha e nunca na vida ousou arrumar a cozinha do almoço. Queria desbravar o ecossistema do quintal da casa e, por Deus, como era grande. Largava sem dó nem piedade o bando de bonecas e chamava o cachorrinho, que era seus olhos e seu olfato e até mesmo sua intuição. Enterrava e desenterrava, ela mesma, tesouros de pedrinhas coloridas e minhocas e sempre acabava comendo terra, porque era simplesmente irresistível aquele cheirinho de minerais e infância. Escalava árvores de jabuticabas empoeiradas, comia goiaba e também os bichinhos das goiabas, que nada mais eram do que pedacinhos de goiaba dotados de movimento e coração. Quantas horas? Johanna não sabia olhar as horas em relógios de ponteiros, mas o sol já estava mais para lá do que pra cá, o que provavelmente indicava que estava na hora de começar a aula. Johanna era a professora das galinhas e não havia profissão no mundo mais honrosa do que lecionar para aquelas esganiçadas, mesmo que elas fossem extremamente bagunceiras e desorganizadas, pois nunca acatavam uma ordem sequer.
Mas era paciente e compreensiva e sabia que, mais cedo ou mais tarde, conquistaria a sua confiança e respeito, o que nunca chegou a acontecer de fato. Contudo, estava lá outra vez, no outro dia. Óculos sem lentes e um livrinho da coleção Vaga Lume nas mãos. A aula era também um aprendizado para Johanna. Há quem diga que galinhas sejam burras, mas burro mesmo é quem é incapaz de compreender o universo desses serezinhos altruístas e orgulhosos.
J'ai voulu être un nuage
Léger, rose et transparent
On n'a pas notion des choses
Quand on est enfant