Os olhos dela lembravam olhos de ratazana, brilhavam muito - pura malícia. As mãos sorrateiras - as quais, dizia ela, jeitosas - sempre a consertar algo, lembravam-me uma indelicada lira, enfeitiçada para tocar para sempre uma música envenenada.
E era obcecada por consertar tudo, sempre tentando remendar as coisas, as situações e - o que mais me irritava - as pessoas.
A verdade é que suas mãos eram largas e pesadas e tinha uma maneira lunática, manipuladora e torta de lidar com todos. Às vezes me lembrava muito um filhote de gigante com ares de criança que, por não saber controlar o tônus, esmagava tudo o que tentava tocar.
Mas eu podia ver - nos entreolhares, nas explosões de negações desesperadas, na respiração pesada, nas narinas dilatadas - que ela sabia o quanto sua existência mortificava todo sopro de vida ao redor....