sexta-feira, 13 de maio de 2011

Conselhos que ninguém seguiu

Minha querida Maya,

Toda euforia é o prelúdio de uma tristeza muito aguda. Então procure sempre o equilibrio, mesmo que isso lhe custe podar as alegrias extremas. Por favor, nao me entenda mal. Não lhe aconselho a viver uma vida morna, liquidando as emoções. O que peço é que você lute com tudo o que puder para manter as suas forças interiores controladas, caso contrário elas te destruirão.

Não suportaria vê-la desmontada em um mar de sensações exarcebadas, essa sinestesia doentia que nos dissimula a razão e entorpece-nos profundamente a alma. Dirão que é justamente o que você deve fazer, e acredito que seja realmente você quem deva decidir até que ponto se permitirá adentrar seu coração e cuspí-lo aos avessos. No entanto, minha pequena, toda a sua origem remonta a mim. E eu sei o quanto me custou tanta entrega. Custou-me a sobriedade,
a lucidez.

Entregue-se, mas guarde a maior parte de você para você mesma. Ame seus olhos de amendoa, seus cabelos ondulados, sua pele indefinida. Não espere alguém chegar para amar o que você tem, Maya. Mas, caso alguém chegue, não volte correndo para dentro de si e se cubra com seu medo e sua insegurança. Deixe que a amem, aceite que você é passível de ser amada.

E sonhe muito. Sonhe sempre, pois a sua imaginação é um presente de uma mente ilimitada, e acredito ser esta o maior tesouro que um ser humano pode ter. Apenas não deixe suas fantasias erodirem o seu psiquismo. A lama de fantasias reduzidas a pó é muito viscosa e carregará consigo os seus alicerces.

O que me debato para dizer, e acabo por não dizer, é tudo sobre lucidez e sanidade. Eu perdi a minha, Maya. Por favor, prometa que você não vai perder a sua.


Avia Rosier
Sem data