segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Filha do egoísmo

E seus olhos como brasa permaneciam inertes...

Como alguém pode passar a vida a tomar chá com a sua própria alma - e apenas ela - sem enjoar-se de si e sem sentir falta de outras companhias? Ou pelo menos trocar olhares com o mundo, num mínimo sinal de comunicação, apenas para dizer a si mesma que faz parte dele. Às vezes penso que algumas pessoas chegam a encontrar tão clara verdade que se tornam dementes ao se tratar do mundo ao redor, que é anestesiado. É como se vivêssemos constantemente envoltos em fumaça branca, a qual distorce e acoberta a Verdade, que desfila por aí em nuances ocultas. Mas, se eu começo a pensar que existe uma verdade e que essa é negada à maioria das pessoas, então eu estou ficando insana também.

Estaria eu me tornando a minha mãe? Quero dizer, eu não sei mais discernir entre o que acontece dentro ou fora de mim. E veja bem meus olhos, eles estão começando a ter preguiça de se mover.......

‘’Nem sempre se vê mágica no absurdo’’ repete a música.

Paro para observá-la em seu estado habitual de semi-consciência e, de tanto observá-la, deixo de vê-la, e, então, passo a estar também em torpor. Queria que acordasse de seu sonho íntimo. Queria que ela me pegasse pela mão e me contasse sobre as coisas da vida ou me explicasse o porquê de querer ter uma filha tão velha a ponto de não poder cuidar dela, apenas porque uma continuação sua sempre foi seu sonho.

Johanna nunca soube cuidar de si, mas ter uma filha era um capricho. E Johanna perseguia seus desejos como uma onça persegue sua presa.

Por que eu não consigo respirar perto dela?! Porque ela não deixa espaço para que existam quando é ela quem está existindo. Eu a odeio por isso. Eu poderia deixá-la e confrontar o mundo por Amália, mas não se enfrenta o mundo por alguém que não se ama. Nem por mim eu enfrentaria o mundo.

Permaneço e a vejo cada vez mais esfumada e menos sem contraste, cada vez mais espírito e menos carne.

Quanto a mim, eu já nasci mesmo um pouco sem vida.

Avia Rosier.