sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Stella nunca deixou de ser

I will steal you, Stella.

Acontece como com as pessoas que continuam sentindo os membros mesmo depois de amputados.

Ou o doce do açúcar dissolvido em água pura. Não mais se vê.

Intocável como sempre o fora.

Claro espelho estilhaçado, que de tanto se dividir, tornou-se incolor. E quanto mais reflete agora! Tão mais se faz presente, porque agora é disperso – como sempre sonhou ser – onipresente.

Minha flor ubíqua, nos meus onze sentidos, em sinestesia e comunhão permanente

Entrega

Para mudar o mundo você precisa suportar a dor e usar todas as suas chances de ser ouvido. Isso inclui seu sangue, sua vida e muito além. Para mudar o mundo você precisa entregar mais que a própria vida à luta, você precisa expor os seus irmãos. E vê-los partir, um após outro. Em cada gota de sangue, um grito de libertação. Morrer pelo que você acredita é uma forma de nunca se calar diante do absurdo, de não deixar que o preconceito e o terrorismo o sufoquem. Lutar é doar até o que você não possui, se isso significa perseguir o seu propósito.

Lembro-me que a última coisa que vi em vida foram os olhos dele. Duas fendas cobertas de verdes nuances. Então era assim? Apenas aquele silêncio verde, cego e indolor?

A morte é um espelho. No meu inverso de vida não houve dor nem medo, apenas o alívio da minha consciência. Ela foi tudo o que me tornei. Ela e apenas ela, clara e limpa como um cristal. Nela, a memória estava presente, preenchendo um espaço infinito de lembranças daqueles que me deram paz em uma vida de guerra. Foi quando me lembrei deles que descobri as respostas dos meus porquês e tudo ficou bonito, claro e indolor.

Amélia Bones