
Deram a Johanna Rosier um caderno sem pautas e uma caneta preta. E ela começou a escrever, ignorando os dedos quebrados.Senti, a princípio, que aqui as noites seriam brancas e os dias, escuros. Trouxe uma pequena bagagem, o suficiente para minha higiene pessoal. Aqui a beleza é tímida, genuína, muito frágil. Por isso ela fica escondida.
Acho que nunca vi tanta variedade de almas em um só saguão - inquietas, enjauladas, fora da órbita, almas cadentes, que vinham e voltavam rápido demais, e outras que haviam ido para sempre. Algumas eram geladas, outras eram pura empatia - mas sempre era distorcido. Seus sentimentos, medos, fobias, ansiedades, suas formas de demonstrar afeto, interesse ou raiva eram sempre demasiados, bordados até as pontas. Não nego o quanto essas pessoas me assombraram e me encantaram ao mesmo tempo.
Eu sabia que havia rios em meu cérebro correndo no sentido contrário, e, de repente, eu comecei a me lembrar de como os rios se formavam e me senti um sedimento abandonado na borda. Li uma vez que rios muito violentos só o são por culpa das margens repressoras. Que margens me espremeram até que o meu sumo viesse parar aqui? Talvez a origem de tudo isso esteja dentro de mim, ou então é só a vida que pensa no sentido contrário. Eu queria que alguém surgisse e me dissesse que, na realidade verdadeira das coisas, os rios sempre correm da juzante para a montante. Que a gente sempre pisou errado, que é no céu que devemos andar, que é a praia que molda as ondas, que não há problema em ser torto. . .
Mas lutar contra a retidão só nos torna mais quebrados.
Às vezes gostaria de saber como mentes como a minha e a dos meus companheiros fizeram para burlar a seleção natural. Em outras me sinto especial por ter me desviado tão acentuadamente. De qualquer forma é convulsionado, é difícil separar a letra da melodia. Eu nunca consegui de fato. É possível que eu nunca consiga. Esse lugar apenas me fez perceber que é inútil tentar desligar o som.