sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
Ciclagem rápida
JUSTIFIQUE SUA RESPOTA
Eu gosto das coisas que se reorganizam
Ela também era uma flor
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
Eu penso em todas as dores do mundo. Eu penso nos seus olhos se alagando de vermelho.
E vejo mosaicos de cimento e pele. A sua pele, os seus cilhos se espalhando.
Eu penso em coisas que não deveria pensar…
A sua mão esbarrando na minha. A sua mão se partindo no passeio.
Os seus olhos me sorrindo. Os seus olhos se fechando.
Eu sentindo a vibração do seu músculo bombeando sangue.
E então desacelerando devagar.
As suas sardas. O seu rosto respingado, partido, estatelado.
O seus cabelos pretos e a sua alma branca.
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
O desafio de conviver com a própria mente

Deram a Johanna Rosier um caderno sem pautas e uma caneta preta. E ela começou a escrever, ignorando os dedos quebrados.Senti, a princípio, que aqui as noites seriam brancas e os dias, escuros. Trouxe uma pequena bagagem, o suficiente para minha higiene pessoal. Aqui a beleza é tímida, genuína, muito frágil. Por isso ela fica escondida.
Acho que nunca vi tanta variedade de almas em um só saguão - inquietas, enjauladas, fora da órbita, almas cadentes, que vinham e voltavam rápido demais, e outras que haviam ido para sempre. Algumas eram geladas, outras eram pura empatia - mas sempre era distorcido. Seus sentimentos, medos, fobias, ansiedades, suas formas de demonstrar afeto, interesse ou raiva eram sempre demasiados, bordados até as pontas. Não nego o quanto essas pessoas me assombraram e me encantaram ao mesmo tempo.
Eu sabia que havia rios em meu cérebro correndo no sentido contrário, e, de repente, eu comecei a me lembrar de como os rios se formavam e me senti um sedimento abandonado na borda. Li uma vez que rios muito violentos só o são por culpa das margens repressoras. Que margens me espremeram até que o meu sumo viesse parar aqui? Talvez a origem de tudo isso esteja dentro de mim, ou então é só a vida que pensa no sentido contrário. Eu queria que alguém surgisse e me dissesse que, na realidade verdadeira das coisas, os rios sempre correm da juzante para a montante. Que a gente sempre pisou errado, que é no céu que devemos andar, que é a praia que molda as ondas, que não há problema em ser torto. . .
Mas lutar contra a retidão só nos torna mais quebrados.
Às vezes gostaria de saber como mentes como a minha e a dos meus companheiros fizeram para burlar a seleção natural. Em outras me sinto especial por ter me desviado tão acentuadamente. De qualquer forma é convulsionado, é difícil separar a letra da melodia. Eu nunca consegui de fato. É possível que eu nunca consiga. Esse lugar apenas me fez perceber que é inútil tentar desligar o som.
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
Pétala
Eu me acostumei ao barulho das britadeiras, ao pó irritante da cal, a transitar em meio aos entulhos da obra que deixei inacabada. Eu me habituei a desistir de levantar da cama e, com o tempo, desisti também de inventar desculpas para ficar em casa. Acostumei-me às dores nas articulações, a mastigar sempre do lado esquerdo e a dormir com fome.
E eu olhava os pássaros e só via a mim mesma. Via meu reflexo no sol, nas águas, num cardume colorido de peixes pela televisão. E frustrava-me a imperfeição das pessoas. A maior bobagem da vida é olhar para os outros e só ver o que eles não são, um dia disse a minha irmã de alma.
Disseram que sou individualista, pouco amorosa, irresponsável, preguiçosa, arrogante e que sempre falo do que não sei. Disseram que tenhos olhos puxados de Iansã, mas que não sei nada sobre ela. Disseram, disseram...
E eu deixei-me dizer. Percebi que às vezes a única forma de conviver com certas pessoas é ignorando o que elas dizem. Convenci-me de que só preciso me importar com o que realmente vai causar mudanças em mim - e eu conheci muitas pessoas que o fizeram; escrevi suas palavras nos meus manuais desordenados de como viver.
Eu vi muitas dessas pessoas indo embora e me senti, em todas as vezes, como uma flor perdendo as pétalas. Mas, depois da dor e da ausência, eu notei que, bem perto da pétala arrancada, sempre nascia outra. Diferente, mas ainda assim pétala.
E eu aprendi com os livros que a poeira não muda a essência, que o tempo não cura, que o sol só queima por fora e que o passado não pode ser apagado. Aprendi com os cachorros que a vida vale a pena só pela vitória de existir, que o amor só é amor quando você se dá com alegria e esquece de si.
Eu percebi que posso não estar preparada para o ônus que a liberdade traz consigo, mas que mesmo assim mereço a chance de errar, embora isso não precise ser uma desculpa para viver errando.